10 outubro, 2005

Queijo fresco ou uma ida ao dentista?

É de facto dificil escolher. Um dia ouvi a parábola do camaleão (é engraçada a decomposição desta palavra, 'cama' + 'leão' dá que pensar... e muito), e era assim: "Não sei se vá se fique, não sei se fique se vá, se fico aqui, não vou ali, se vou ali, não fico aqui." Não sei se já repararam que este pobre animal tem uma espécie de tique que o leva a balançar ora para a frente, ora para trás. Fico invadido de um profundo sentimento de pesar, para com este ser vivo. MAS, eis senão quando o despertador toca e acordo para o mundo real, este mundo onde existem queijos frescos e dentistas.
Esta é a verdadeira luta pela sobrevivência da espécie, as escolhas entre as coisas igualmente boas, e este é o caso, ou seja, é tão bom ir ao dentista como comer queijo fresco.
Deparo-me com este intrigante dilema, nem mesmo homens brilhantes, possuidores de uma inteligência acima da média (da média de qualquer lesma), foram capazes de dar uma resposta cabal, sim já devem ter adivinhado refiro-me ao Eusébio. Porém a dúvida persiste. O que é afinal o queijo senão um pouco de leite estragado, inundado de toda a espécia de bactéria de apodrecimento que actua na decomposição de qualquer organismo vivo. Lembro-me do 'lilo' (foi a minha mão direita que sózinha escolheu o nome), vocês não o conhecem mas ele era uma bactéria macho que parava ali para os lados da Guarda, uma vez contou-me (em confissão) que entre um cão atropelado e um coalho de leite, lhe era muito mais grata a tarefa de decompôr o cão, pois não corria o risco de ir parar ao intestino de um qualquer humano. - Como já repararam hoje estou deprimido, por isso estou a partilhar os mais interessantes dos meus segredos. A razão para tanta agonia é que ontem foi dia de eleições autárquicas, e o meu querido partido não ganhou nada, isso leva-me a pensar mudar o nome do nosso partido de qwertyuiopçlkjhgfdsa.mnbvcxz.com.br para BE, mas disseram-me agora que já existe uma doença com esse nome. Assim como alternativa vou para a prostituição.- Pronto, quanto ao queijo fresco de certeza que já perceberam o que quero dizer, sempre que comerem um tenham cuidado de não morder o 'lilo', afinal ele é meu amigo.
Por falar em amigo, recordo-me desse, que é o melhor amigo do homem, o dentista. Munido de instrumentos ruidosos e tremeluzentes está sempre pronto a ajudar o homem a morder melhor. Convenhamos que sem dúvida deve ser uma profissão de alto risco. Colocar os dedos , a ponta do nariz e por vezes parte da córnea dentro da boca de uma pessoa cheia de vontade de a fechar, é muito arriscado (gostava de lembrar que uma boca humana pode produzir uma força de aperto de cerca de 2 toneladas*). Noutro dia passei pela zona da expo no final da tarde , já estava escuro , senti um raio de luz vir da minha direita, eram as luzes de um consultório de dentista. A doutora estava debruçada dentro da bocarra de um desgraçado ser vivo que freneticamente apertava e esfregava os braços da cadeira onde estava sentado, retorcia-se o pobre ser, seus olhos, lançavam raios de ódio os quais rápidamente eram aproveitados por um aparelho que os transformava em luz, luz essa, que a dentista usava para continuar a sua investida naquela caverna de restos e habitantes. Bocados de um material acastanhado saltavam de dentro do orificio para onde a 'dôtoura' se empoleirava, a cadeira gemia sufocada pelo peso e pelos apertos do paciente (que já não tinha paciência nenhuma), um zunido persistente soava pela sala e ouvia-se cá fora, um cheiro nauseabundo exalava do orificio. Sim, porque, escândalo dos escândalos, este transeunte que vos saúda com esta obra literária, se encontrava na rua, as paredes do consultório eram de vidro de alto a baixo, as persianas estavam abertas, as luzes estavam acesas e cá fora era de noite e estávamos ao nível do chão. Parecia um stand de vendas de automóveis cheio de atracções. Fiquei por ali apreciei o espectáculo e nem tive que pagar. O paciente levantou-se finalmente do seu matírio, com uns pedaços a menos, uma cara horrível, parecia que tinha ido ao dentista, e ainda pude ver 4 notas de 20 euros migrarem da sua carteira para a da transpirada 'dôtoura'. Coitada aquilo custou que se fartou e o desgraçado ainda era ingrato... pelo menos era isso que os seus odiosos olhos transmitiam.

Pois então, acho que vou chamar o meu amigo 'lilo' e vamos os dois ao dentista. Pode ser que ele assim pague para eu assistir a mais um espeactáculo... Que achei uma verdadeira violação de privacidade.

*(peço desculpa pela mentira mas se não duas é uma ou mais)

Depois deste emocionante momento de partilha quero pedir desculpa ao 'lilo' por tê-lo citado pelo seu nome próprio. Lilo, desculpa tá? Pronto a sinceridade é uma virtude.

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